José de Abreu diz que não tem nada a ver com o Gibson de ‘A regra do jogo’: ‘Gosto de colocar na boca palavras que não diria’
Em “A regra do jogo”, Gibson, papel de José de Abreu, é um homem milionário. Mesmo com tanto dinheiro na conta bancária, o empresário quer mais. O marido de Nora (Renata Sorrah) só tem olhos para os negócios e nada mais. Mas se tivesse a mesma fortuna que o personagem, seu intérprete escolheria outro destino.
— Eu me aposentaria (risos). Iria viajar o resto da minha vida. É algo que adoro fazer. Acho que faria uma novela a cada três anos — diz José de Abreu, de 69 anos, que, desde 1980, nunca esteve um ano sequer fora do ar.
O desejo por uma rotina mais tranquila não é o único ponto que distancia ator e personagem. Enquanto Gibson é um homem frio e fechado, Zé (como é chamado pelos mais próximos) é o oposto.
— Eu adoro estar rodeado de gente. Gosto mesmo de ter pessoas por perto, de estar em grupo. Essa maneira de ser do Gibson é muito longe de mim — explica o artista.
O exercício de dar vida a alguém completamente diferente de si é algo que motiva José, engajado politicamente e que participou recentemente da última campanha do PT. Algo inimaginável para o conservador Gibson.
— Gosto de colocar na boca dele palavras que eu não diria na minha vida. No momento em que estou interpretando, sou o personagem e não José de Abreu. E consigo fazer isso com facilidade. Amora (Mautner, diretora de núcleo) brinca que sou o único ator com botões. Ela diz: “Faz triste, sorrindo, chorando (...)”. Eu adoro ser dirigido — diz o intérprete, que logo emenda: — Um bom ator é aquele que entende o que o autor quer dizer com o texto e que se deixa levar pelo diretor. Já me disseram que, quando você tem um gênio atuando, você não o dirige. Para mim é um horror isso.
Desafio sem fim
De volta a um trabalho do autor João Emanuel Carneiro — que o presenteou com o Nilo de “Avenida Brasil” (2012) —, o ator tem buscado uma interpretação mais contida, tudo para se afastar do icônico catador de lixo:
— Estou tentando tirar essa coisa italiana que tenho e que pude assumir quando interpretei Nilo. Tudo o que me pediram para fazer menos nesses 35 anos de profissão eu fiz no Nilo. Tudo era permitido. Com Gibson, busco essa frieza do milionário.
Mesmo com mais de três décadas de carreira, ele ainda se sente desafiado:
— Amora tem uma coisa instigante. Chego ao estúdio como se estivesse fazendo teatro nos anos 60. Tenho que improvisar, criar coisas fora do texto. Tem vezes em que ela fala: “Zé de Abreu não está aqui. Ele mandou alguém que não sabe fazer”. Ela diz isso quando está ruim (risos).
fonte: http://extra.globo.com