Com Henri Castelli não tem mais ou menos. A resposta é na lata. Logo no começo da conversa, ele diz: “Não sou de mimimi”. E Henri não é mesmo. Na entrevista a seguir, o ator, que dá vida ao vilão Gabo de ‘I Love Paraisópolis’, lembra sua infância e diz que perdeu três amigos para o crime. Henri também fala de mulheres, futebol e sobre sua religião: a umbanda.
Fazer um vilão é melhor do que fazer um mocinho?
Ah, cara, depende muito do vilão e do mocinho. Desde o começo eu estava escalado para outra novela, eu briguei para estar em ‘I Love Paraisópolis’. A outra também era maravilhosa, mas eu sou morador do Morumbi e é colado com Paraisópolis. Conheço muita gente lá. A gente convive junto aqui há muitos anos. É muito perto. Às vezes as pessoas não entendem, mas é uma coisa tipo integrada. A gente frequenta o mesmo mercado, encontra moradores de lá nas farmácias, tem lojas que a gente vai comprar coisas lá porque é mais perto, mais barato. A gente fica integrado. Então quando surgiu ‘I Love Paraisópolis’, eu não acreditava. Falei: ‘eu tenho que fazer essa novela de qualquer jeito’.No meu núcleo, eu fiz o vilão e ele não podia cair para o lado da comédia. A comédia dele é aquela coisa sem graça, de ser sem paciência e ficou até engraçado esse humor ríspido e ácico, que eu acho hilário, como House of Cards, e o Kevin Spacey, que eu me divirto com as caras que ele faz e os comentários dele. Foi todo mundo muito bem escalado para fazer aquilo. Esse foi o grande acerto. A escalação e junto com os autores dando esse caminho, essa preparação. O Chico Acioly, que ficou preparando os atores. Foi tiro certo.
Ah, cara, depende muito do vilão e do mocinho. Desde o começo eu estava escalado para outra novela, eu briguei para estar em ‘I Love Paraisópolis’. A outra também era maravilhosa, mas eu sou morador do Morumbi e é colado com Paraisópolis. Conheço muita gente lá. A gente convive junto aqui há muitos anos. É muito perto. Às vezes as pessoas não entendem, mas é uma coisa tipo integrada. A gente frequenta o mesmo mercado, encontra moradores de lá nas farmácias, tem lojas que a gente vai comprar coisas lá porque é mais perto, mais barato. A gente fica integrado. Então quando surgiu ‘I Love Paraisópolis’, eu não acreditava. Falei: ‘eu tenho que fazer essa novela de qualquer jeito’.No meu núcleo, eu fiz o vilão e ele não podia cair para o lado da comédia. A comédia dele é aquela coisa sem graça, de ser sem paciência e ficou até engraçado esse humor ríspido e ácico, que eu acho hilário, como House of Cards, e o Kevin Spacey, que eu me divirto com as caras que ele faz e os comentários dele. Foi todo mundo muito bem escalado para fazer aquilo. Esse foi o grande acerto. A escalação e junto com os autores dando esse caminho, essa preparação. O Chico Acioly, que ficou preparando os atores. Foi tiro certo.
A novela mostra um conflito social entre ricos e pobres. Você acha que tem cara de rico?
Só se for a cara, né, Leo. Só se for a cara.
Mas o fato de ser louro… É igual a Letícia Spiller, ela tem cara de rica, não tem?
Ela tem porque ela está toda ricona ali na novela. Mas isso é um estereótipo de quem tem olho azul, mas… Se você pegar a vida real não é assim. No cinema americano, por exemplo, o Brad Pitt já fez papel de vagabundo, pobre. Eu estou lembrando do Brad Pitt porque realmente tem isso aí.
Onde você nasceu?
Eu cresci em São Bernardo. No bairro Assunção, na Vila Euro e Vila Maki. É cercado por várias favelas ali. Jardim Carminha, Jardim Claudia… A minha realidade era aquela. Eu cresci no meio da rua, jogando futebol. A gente sabia que tinha crime, mas convivia ali soltando pipa. Sou o mais favelado da novela.
Mas a impressão que as pessoas tem de você é diferente…
Eu cresci assim. Eu tive amigos que foram para o lado errado, alguns morreram por causa de crime. Tive uns dois ou três amigos que se perderam e morreram. Eram amigos que estudaram comigo desde o primário, que estavam na mesma rua que a gente. Nós convivíamos juntos, só que eu não segui esse lado. Mas eu poderia ter seguido. Porque você está ali, você é criança, se você não tem uma boa família ou alguém por perto para te dar orientação… Até no Rio tem muito isso, um monte de playboy metido com tráfico. Então acho que esse estereótipo não cabe. Essa é a minha história. Hoje eu tenho uma posição de vida um pouco melhor, não sou rico nem nada mas tenho minha casa própria… Carro eu não tenho mais.
Por que?
Não quero ter carro, é muito gasto e eu já tenho meus filhos, já gasto dinheiro com eles. Tenho outras prioridades ao invés de ficar pagando imposto, IPVA, essas porcarias que não me trazem nenhum retorno. Carro desvaloriza e eu tomo multa pra caramba. Posso sair para jantar, tomar um vinho e não preciso ficar preocupado com Lei Seca, acidente… Achei muito melhor vender o carro, fiz isso há um ano.
Sua vida está melhor sem carro?
Eu simplifiquei minha vida, Leo. Eu fiquei um tempo em Nova York e aprendi a dar uma simplificada na minha vida. Eu tinha uma casa bem maior, mudei para um apartamento pequeno…
Mas você tem dois apartamentos. Um no Rio e outro em São Paulo, não é?
Não. Só tenho um apartamento, cara. Eu acho até que o pessoal que estava me processando devia imaginar que eu devia ter várias casas, vivia indo de carro para a praia. E depois descobriram que eu não tenho nada. Tenho a casa que eu moro. Já viajei demais, já gastei muito dinheiro. Depois que eu tive filho, fui morar nos Estados Unidos e não tinha como guardar dinheiro. Foi tudo para viver fora durante muito tempo. Eu tive que reconstruir minha vida, comprar uma nova casa, um carro, reconstruir tudo do zero. Nos últimos dez anos eu não tive como guardar dinheiro, investir em nada.
Que processo é esse que você estava falando?
É um processo trabalhista que eu tive há oito anos e que já foi resolvido. Depois que a gente finalizou o processo, a gente entrou em um acordo, eles viram que eu não tinha nada. É aquilo que você estava falando de cara de rico. O Luciano Huck tem cara de rico? Se você encontrasse com ele no supermercardo Princesa você diria que ele tem cara de rico? Você não ia achar que ele é rico. As aparências enganam.
É verdade que você ajudou em alguns bordões da novela?
Não. Eu cheguei no começo até a falar alguma coisa. Tenho uns amigos que falam muita gíria da torcida organizada do São Paulo. Eles falam gíria pra caramba e eu dou risada pra cacete. Aí como eu convivo muito, moro em frente ao estádio, aí você aprende. Onde eu morava eu falava muita gíria, o tempo inteiro. Aí quando eu vejo a cena as vezes eu me imagino fazendo o papel e penso ‘eu sou mais favelado que todo mundo’. Mas o bom é isso porque se eu fosse fazer, eu estaria na minha zona de conforto. É uma coisa que eu faria tranquilamente. É o que você falou, colocar um cara de olho azul para fazer o Grego de repente não ia combinar. Mas se você entrar em várias comunidades você pode ver que tem caras com estereótipo galã.
E sobre São Paulo, como é a sua relação hoje com o clube? Você sempre foi um torcedor muito presente. Você tinha acesso a direção do clube?
Tenho acesso a tudo lá. Sou sócio há quase 20 anos. Já tentaram me colocar dentro do conselho…
Já tentaram te colocar no marketing do clube?
Sim. Isso eu sempre apóio porque eu gosto do clube em si não pelo futebol. Inclusive, hoje em dia não sou mais fanático por futebol. Parei um pouco com isso.
Por que você abandonou o futebol?
Porque eu conheci de perto.
Mas qual foi a decepção?
Várias. Está tudo explícito aí no jornal. O presidente da CBF está preso na Suíça. É muita sujeira que rola, então eu comecei a entender que como tem muito empresário em cima do jogador, acabou aquela coisa do jogador ficar vários anos no clube. Hoje em dia a gente não sabe a escalação do time, o jogador vem fica dois meses e vai embora. Eu fui conhecendo muito de perto como era a divisão com os empresários… Os caras que mandam nos clubes na verdade não mandam mais nada, então o cara tira e põe na hora que ele quer. O jogador é um negócio. Ele vai onde paga mais e está certo. Virou isso, vai fazer o que? Eu torço para o São Paulo porque eu gosto da instituição.
Agora vai mais um pensamento preconceituoso meu. O São Paulo é clube de burguês, hein…
É burguês? Você quer fazer um desafio comigo? Vem para São Paulo e eu te levo lá onde fica a torcida.
Por que? É ruim?
Não. Se você quiser ir, é um desafio. Vamos comigo que eu te levo na quadra da escola de samba, você vai ver como é. Te levo na sede da torcida ali no Largo do Paissandu pra você conhecer. Ou se você não quiser ir, eu te levo no estádio e você fica comigo onde eu fico com a torcida e você tira suas conclusões.
Esse amor ao futebol que você passava para o seu filho também diminuiu?
Não. Isso não diminui porque eu passo para ele amor ao esporte. Acho importante pra caramba. Ele faz futebol na escola. Eu fiz muito esporte quando era criança. Então agora ele está fazendo futebol, eu jogo tênis e ele também quer jogar. Ele está no basquete. Ele é muito alto, a médica falou que ele vai chegar a 1,90 m. Então ele vai jogar basquete, está todo animado. Comprei uma bola de basquete para ele e ele está todo feliz. Vamos ver no que vai dar.
Eu vejo que apesar de não viver mais com as mães dos seus filhos, você é um pai muito presente. Parece que você tem muita necessidade de estar presente. Por que isso?
Eu perdi meu pai muito cedo, então desde pequeno ir para a escola no Dia dos Pais era muito triste. Eu tenho 37 anos e na minha época, eu ia para a casa dos meus amigos e sempre via as famílias, pai, mãe, as crianças em casa… Saía para comer e via o pai dirigindo. Essas imagens que via na casa dos meus amigos ficaram muito marcadas para mim, eu queria ter aquela vida de ter pai e mãe dedicados, uma família. E quando meu pai morreu piorou.
Quantos anos você tinha quando seu pai morreu?
Eu tinha 11 anos. Isso virou meio que uma obsessão para mim. Eu queria muito ser pai. Com a Isabelli (Fontana, modelo), eu realizei esse sonho de ser pai e foi maravilhoso, incrível. Eu tinha muito medo de ir embora mais cedo e meu filho passar pelo o que eu passei. É muito sofrido. E mais do que isso, ter filho para mim, espiritualmente, era uma missão. Ter filho, na minha vida espiritual, é uma missão. E na vida que eu estou vivendo hoje, na vida que a gente vive, é uma coisa de fé na vida. Eu vou colocar um filho no mundo e não sei como vai estar daqui há uns 30 anos e nem quando eu tiver um neto. Como vai ser essa superlotação que a gente está vivendo, efeito estufa, o mundo está muito louco. Então por isso que é uma coisa de fé. Se você pensar, você vai ter coragem de colocar um filho no mundo hoje do jeito que as coisas estão pra tomar um tiro? Você vai pra Europa e corre o risco de explodir lá com um atentado.
Você queria ser pai de menino e menina?
Sim.
E qual a diferença?
Eu queria ser pai de menino desde que eu tive o Lucas. Porque na verdade, a menina viria de qualquer maneira. Eu tinha tatuado ela cinco anos atrás. Fiz uma tatuagem há quase cinco anos. Eu tenho umas intuições e uns sonhos muito loucos. Eu falava para a Isabelli que eu queria menina, mas eu sabia que era menino e ela ficava puta. Ela dizia: ‘como você sabe e eu não sei?’. Eu dizia: ‘eu não sei, Isabelli, eu sinto’. Como ela já tinha dois filhos, ela não queria ter mais. Eu falei: ‘poxa, Isabelli, um dia eu vou ter. Seja com você ou com outra’. Era uma coisa muito forte dentro de mim. Houve vários sinais que eu recebi e uma vez eu recebi um sinal muito forte e eu tatuei. Eu desembarquei em Nova York e fui fazer a tatuagem.
Qual foi o sinal?
São intuições minhas. Sonhos. Foi ficando cada vez mais forte. Eu nem gosto muito de falar isso, mas são sinais. Se eu falar muito vão achar que eu sou doido. Mas eu sou muito sensível com isso. Aí eu tatuei ‘Duda’ e coloquei 201 porque eu sabia que ela ia nascer em dois mil e alguma coisa. Ficou dois, zero, um e agora só falta fazer o quatro para completar o ano em que ela nasceu. Quando a mãe da minha filha ficou grávida, ninguém esperava que acontecesse a gravidez.
Então você não quer mais ter filhos?
Não sei, Leo. Eu tenho uma sensação que eu talvez tenha, mas se tiver mesmo será um menino.
E você quer casar? Ter uma vida a dois?
Aquela coisa que eu te falei das famílias, crianças, pai e mãe jantando, ficou muito forte dentro de mim. Apesar de eu ser muito livre, sempre viajei… Com 16 anos saí de casa para morar no Rio e estudar teatro, eu sempre quis ter. Acho que por querer tanto, errei várias vezes. Eu fui atropelando fases, casando muito cedo e não deu certo por ser muito novo, imaturo ou sei lá o que. Então eu aprendi que hoje eu tenho uma família do jeito que eu sei ter. Eu sou muito livre. Talvez isso mude. A família tradicional, esse casamento de 10, 15 anos, que as vezes tem um traindo o outro eu não quero para mim. Se for para casar, vai para ter uma parceira, eu não vou trair. Não quero isso para mim. Se for para ser assim, eu prefiro não ter. Eu tenho meus filhos que ficam comigo, tenho todo acesso a eles. Está tudo certo. Minha filha eu fico um pouco menos porque ela é menor, mas ainda assim fico bastante. Tenho minha mãe, vou passar o Natal nos Estados Unidos com os meus sobrinhos. Eu tenho a minha família.
Qual o lado bom e o lado ruim de ser famoso?
Não sei te responder isso não. Eu trabalho já há 18 anos, quando acabar meu contrato vou fazer 22 anos na Globo, alguma coisa assim. Eu trabalho só na televisão, então não tem jeito de não ter exposição. Eu sou muito simples. É como se eu fosse um operário lá. Eu tenho preguiça de fazer matéria…
Você não deixa de fazer nada porque é famoso?
De jeito nenhum. Não deixo de fazer nada. Vou muito ao Mercadão de São Paulo, vou na porta do estádio. Tem dias que você pega um aeroporto mais cheio que nunca te viu e quer tirar foto. Eu acho isso legal. Se você está de mau-humor, então não sai de casa. Por exemplo, no Mercadão, um lugar público, grande, cheio de gente, seu eu estou de mau-humor, eu peço para a minha mãe ir. Se eu estou legal, eu vou, tiro foto. Sento, compro bacalhau, vinho, compro tudo que quero e tomo chopp.
Sua mãe mora com você? É uma opção sua?
Mora. É uma opção minha.
Esse elo com sua família é muito importante? A casa ter gente, ter mãe… Você não moraria sozinho?
Já morei sozinho no Rio. Teve um lado bom mas eu não vejo sentido. A minha mãe é do caralho, não me bloqueia em nada, não me critica.
Você pode levar mulheres para a sua casa?
Eu não levo para casa se eu não conheço. Não faço isso porque é coisa minha. Você não leva mulher que você não tem nenhuma relação para a sua cama, leva para o motel, para algum outro lugar. Eu trabalho muito com essa coisa de energia, então não é legal. Minha casa é meu templo sagrado. Para estar ali tem que ser alguém bacana, com quem eu já tenha um relacionamento há algum tempo. Até porque meus filhos de vez em quando estão em casa. Tem tanto lugar para você levar mulher.
Você é bastante sincero nas suas respostas, por isso quero falar de religião. Poucas pessoas no mundo artístico, que é preconceituoso, abrem suas religiões quando se trata de religiões afro-brasileiras. A Juliana Paes é uma que fala de uma maneira light, mas fala. Eu queria que você falasse um pouco sobre a sua. Você pode?
Não tem muito segredo não. Eu fiz catecismo, frequentava igreja católica com a minha mãe nos domingos. Sempre fui muito a Aparecida do Norte, sou devoto. Rezava para ela desde que tinha 11 anos. Desde que meu pai morreu, rezo para ela todo dia. Tenho essa imagem de Nossa Senhora até hoje. Ela fica comigo, as vezes levo para o Rio…. Eu tenho Deus em primeiro lugar na minha vida, eu acho Deus é maior que qualquer coisa. Em qualquer religião, você vai encontrar Deus e eu aprendi que o amor ao próximo, a caridade, a humildade. Essas coisas que todo mundo fala que as vezes parece babaquice, mas é verdade. Quando teve aquela menina que foi apedrejada, eu pensei: ‘que Deus é esse que manda apedrejar alguém por causa de religião?’. Isso é crime. Para mim é bandido. Isso é uma tentativa de assassinato. Tem leis para nos proteger desses crimes. Quando a minha mãe me levava para Kardecismo, na parte do espiritismo, que para mim é uma relação de consciência. Eu acredito em Deus e reencarnação. Para a minha vida só tem sentido se for assim, senão qualquer drama que eu tiver vou fazer uma loucura, me jogar do prédio. Se eu não acreditasse numa punição para o suicídio, para o aborto… Depois de um tempo fui crescendo, entendendo melhor e a gente foi trabalhando com a parte espírita, pelos caminhos e coincidências que eu acredito que a vida leva, fui parar na parte de umbanda. E continua como sempre colocando Deus acima de tudo. As pessoas acham que vão chegar lá e vão ter o bilhete da loteria ou vão encontrar o amor no outro dia. E não é isso. O trabalho que a gente faz lá, com Preto Velho, por exemplo são escravos que viveram durante muito tempo massacrados, humilhados, mas que têm tanta sabedoria de te acalmar, passar uma mensagem legal, de humildade, de seguir em frente. São amigos espirituais que te dão força . Mas nada é maior que Deus . Eu falo isso principalmente porque a gente é espírita. A força maior está dentro da gente.Na hora que eu morrer, vou virar um espírito como ele. Eles estão tentando evoluir. A umbanda é uma prática diária da evolução da gente, como ser humano e como pessoa , como cidadão.
Você já sofreu preconceito?
Não. Acho que não.
Postado por: Leo Dias
fonte:http://blogs.odia.ig.com.br