Atriz de ‘Além do tempo’, Ana Flavia Cavalcanti diz que já foi vítima de preconceito: ‘Discriminação é cafona’
Ana Flavia Cavalcanti oscila entre referências do século 19 e do século 21 diariamente. Em casa ou no trabalho, a moradora de um casarão do século retrasado de Santa Teresa volta ao passado histórico também com sua Carola, personagem sonhadora de “Além do tempo”. Na vida real, a paulista de Atibaia, mulher contemporânea que deixou a faculdade de Enfermagem e foi para a França estagiar no Teatro de Soleil, corre atrás dos seus objetivos sem medo de ser feliz.
— Ano passado, depois de gravar um registro para o banco de atores da Globo, me chamaram para a novela. Antes, investi na formação, fiz oficinas. Mas estar na TV tem uma magia — assume ela, aos 33 anos. — Eu não seria uma boa enfermeira do jeito que posso ser uma boa atriz. Tenho vocação, desejo. Mas também acredito em chamado, numa voz que fale com a gente. Queria viver uma história que não fosse só a minha.
Carola, coincidentemente, não afasta tanto Ana Flavia de sua história. A personagem que cuidou desde a infância da irmã mais nova, a órfã Rita (Daniela Fontan), faz a atriz lembrar com sorrisos dos apuros que passou com a irmã da vida real, Natalie, hoje com 31 anos:
— Ela me deu muito mais trabalho! Saía, arrumava brigas na escola, só queria saber de se divertir. Eu era a obediente... Era a Carola (risos)!
A artista se despe totalmente de sua personagem neste editorial de moda, com peças plissadas, referência na moda vintage. Mas o estilo de Ana já tinha chamado atenção de muita gente.
— Como modelo, fiz mais comerciais do que campanhas fashion. Fotografei bastante, mas nunca fui das passarelas porque não tinha altura — relembra, elegendo o look da foto à esquerda como seu preferido. — Gosto de estampas, de flores... Mas também curto moda como linguagem, quando ela ganha a massa: algumas pessoas começam a usar algo sem ser tendência, e depois está todo mundo usando.
Para manter seus 56kg, a atriz de 1,69m aposta em atividades leves.
— Descobri a Yoga Iyengar, que é poderosa tanto para o físico quanto para eu me reconectar. Tenho dificuldade com academia: um ambiente fechado, gelado, com música estranha. Mas sei que teria que fazer — relativiza, lembrando que investe na alimentação saudável pela saúde: — Tento comer minha própria comida em poucas porções. Apesar da tendência a ser magra, já estive dez quilos acima do peso.
Vestida da cabeça aos pés na trama das seis, onde por enquanto trabalha como arrumadeira no casarão, Ana já especula como será seu futuro a após a virada da novela para o século 21. As apostas, ela garante, não dão pistas sobre a vida amorosa da moça.
— Eu gostaria muito de ter um par romântico. Por enquanto, só pego na vassoura, no rodo... — diverte-se.
Mesmo assim, a personagem chama a atenção com outra trama: ela não esmorece diante das ofensas da vilã Melissa (Paolla Oliveira), e luta por respeito. “Ela se impõe, argumenta que está trabalhando e não deve ser destratada”, diz Ana, pontuando que a novela se situa após o fim da escravidão no Brasil, mas, na vida real, ela já sentiu na pele a discriminação.
— Fui um pouco hostilizada num café do Leblon uma vez. Umas senhoras da high society carioca me olharam mostrando que não me queriam ali. Fiquei desconfortável, mas me impus. Não dou brecha para maus-tratos. Discriminação é cafona. Como diz Maju (jornalista que faz a previsão do tempo no “Jornal Nacional’’), os preconceituosos passam.