Vitória vai morar de favor em ‘Além do tempo’: ‘O poder corrompe almas’, diz Irene Ravache
A megera desceu incontáveis degraus. Cento e cinquenta anos depois e muitos tons abaixo, Vitória (Irene Ravache) parece apenas ter iniciado a amarga trajetória que cavou em sua primeira encarnação em “Além do tempo”: até que chegue ao início da ladeira, ainda há muito o que ser rolado. Na próxima semana, num golpe armado por Emília (Ana Beatriz Nogueira) — filha que abandonou quando ainda morava na Itália —, a mulher arrogante deixará para trás o último resquício de riqueza. Deprimida, parte do suntuoso palacete em direção a um quartinho na casa da cunhada Zilda (Nívea Maria). Nos dias seguintes, procura emprego e é contratada como funcionária do restaurante de Rosa (Carolina Kasting). É o princípio de uma derrota irreversível.
— Ela já não tem nenhum poder, e vai passar a viver de favor. Como toda pessoa que é sozinha, ela sobrevive — afirma Irene, sem poupar nas brincadeiras ao traçar as diferenças entre a condessa da primeira fase e a mulher falida de agora: — Repare no figurino! Vitória tem um blaser Armani, mas é de 1980 (risos). As peças de grife que ela mantém não são modernas, porque não há dinheiro para comprar há muito tempo.
O comportamento menos exaltado da personagem está diretamente ligado à pobreza, como ressalta a atriz. Irene é daquelas que defende a tese de que, sim, fortunas são capazes de alterar personalidades ao extremo.
— Como não? Olha o país em que nós vivemos. Olha o que o dinheiro está fazendo com as pessoas — opina a carioca de 71 anos, firme no discurso crítico: — O poder corrompe almas. Vitória é só um exemplo. Veja a quantidade de almas corrompidas no nosso governo e no nosso empresariado. Todo dia eu digo assim: “hoje, nós, brasileiros, conheceremos uma voz ou uma personalidade da vida política que nos fará sentir que ele gosta do país’’. O problema é que ninguém quer ser um estadista aqui. E o que é o estadista? É aquele homem que chega e diz: “Vou fazer alguma coisa porque amo a minha terra”. Mas não tem isso, infelizmente!
Poderosa ou não na ficção, Irene festeja a intensidade do papel. Sem nada para ostentar, Vitória sofrerá ainda mais.
— Já fiz muitas comédias, e me diverti muito, mas gosto de personagens dramáticos — frisa a atriz: — Os bons personagens têm uma espinha dorsal consistente, uma carga humana crível. Dá para acreditar, sabe? Esses eu adoro.
fonte: http://extra.globo.com