Autor de ‘A regra do jogo’ justifica motivos que levam Tóia a matar Romero
Entre os dez mandamentos da fictícia bíblia da teledramaturgia, um parece intocável entre os personagens de boa índole: não matarás. Afinal, não é todo dia que vemos heroínas com faíscas vingativas. Porém, como lembra o doutor em teledramaturgia Mauro Alencar, “as mocinhas acompanham o tempo”. Algo que João Emanuel Carneiro parece compreender ao delinear os próximos passos de Tóia (Vanessa Giácomo) em “A regra do jogo”. Atiçada por Atena (Giovanna Antonelli), ela vai “matar” Romero (Alexandre Nero) queimado. Entre aspas, porque tudo leva a crer que o homicídio não passa de um golpe. Alheia à encenação, a protagonista carrega o peso de ser assassina.
— É o que a trama pedia. Depois de tudo o que Tóia passou, é compreensível que seus limites ultrapassem a barreira entre o certo e o errado. Ela tem sangue quente nas veias. Foi uma sucessão de perdas, tudo isso reunido em uma só pessoa: Romero. Grávida e vivendo em cárcere privado, Tóia se vê com as emoções expostas e age como a sobrevivente que é — justifica o autor.
A opção causou estranhamento entre reconhecidas mocinhas da TV (veja abaixo). Vanessa, ao contrário, diz estar acostumada aos sobressaltos do texto de João Emanuel e lembra que, desde o primeiro capítulo, Tóia rasgou o rótulo de heroína tradicional.
— Já no começo, ela furta Adisabeba (Susana Vieira). Sim, o motivo era nobre e ela se entregou para a polícia. Mas ali já dava para ver que seria possível esperar muita coisa de Tóia. Essa atitude extrema para afastar Romero me parece ser fruto de um efeito catarse. Isso só fará com que ele continue a assombrando porque sentirá uma enorme culpa — frisa a atriz.
Autor de “Verdades secretas”, Walcyr Carrasco reforça não haver regras rígidas nesse jogo. Ele mesmo surpreendeu o público quando Angel (Camila Queiroz), no derradeiro capítulo, mata Alex (Rodrigo Lombardi) com um tiro.
— Heroínas românticas têm espaço, assim como as vingativas. É assim também na literatura. João é criativo, capaz de grandes viradas. Isso prende o público, provoca emoções, eleva a temperatura — elogia.
Embora a falsa morte abra novos rumos para a trama, o autor garante não existir chance de a mocinha enveredar pelo caminho do mal.
— Tóia não é uma vilã. Tampouco está louca. Conviver com a possibilidade de ser uma assassina a perturba. Certamente, ela não vai se esquivar de assumir a responsabilidade pelo que fez. Esse episódio é um passo desesperado dado por uma mulher que tenta a qualquer custo se livrar de seu algoz — conclui.
Opinião de mocinhas
Betty Faria
Protagonista de “Pecado capital” (1975), entre outras tramas, Betty Faria afirma adorar a novela, mas faz ressalvas em relação ao “homicídio”: “Uma pessoa dentro dos padrões da normalidade não é assassina, por mais raiva que tenha. É preciso ter um instinto. Uma pena que a mocinha da novela tenha isso. Se posasse de heroína e depois mostrasse esse lado, ficaria bem chocada”.
Nívea Maria
A atriz, a doce Carolina de “A moreninha” (1975), acredita que a sequência vai chocar o público e reforça: “Se existem casos assim na vida real, por que na novela não pode acontecer? Mas não gostaria de fazer uma personagem assim. Acho que, para a Vanessa, será difícil buscar a verdade da cena. A Tóia é um dos papéis mais difíceis, subiu e desceu ladeiras na novela”.
Elizabeth Savalla
“Não acredito que o autor levará essa morte adiante. Tóia passaria a ser a bandida. Se ela tiver matado mesmo vai ser uma revolução. Mas aí ela teria que ir para a cadeia, porque existe uma coisa chamada Justiça, até mesmo no Brasil”, opina Savalla, protagonista de “Pai herói” (1979) e “Plumas e paetês” (1980, na foto).
fonte: http://extra.globo.com