Solteiro, Marco Pigossi planeja passar temporada na França: ‘Estou aproveitando a vida’
Marco Pigossi não lembra a idade ao certo, mas guarda na memória, hoje com humor, o dia em que deixou de acreditar em Papai Noel, o pilar incontestável da ingenuidade que permeia a infância.
— Era muito pequeno e nunca vou esquecer! Minha mãe (Mariness Maldonado, de 60 anos) deixou o gorro do Papai Noel pendurado na janela. Fiquei horrorizado com aquilo. Quando vi, pensei que ele tinha caído e morrido. Foi a pior ideia que ela já teve (gargalhadas). Cara, você não faz isso com uma criança. Comecei a chorar e falar: “Ele morreu”. Aí minha mãe explicou que foi ela quem colocou o gorro lá e logo concluí que o Papai Noel não existia — diverte-se o paulistano, de 27 anos, que farejou com mais facilidade (e sem traumas!) a ideia lúdica em torno do Coelhinho da Páscoa: — Minha mãe é um barato! Ela fazia as pegadinhas do coelho pela casa com palavras escritas, uma gincana. Era a letra dela, né?! Sabia quem era (risos).
O mistério em torno da Cegonha, ele decifrou rapidamente:
— Já tinha a internet, né!? Dava para descobrir algumas coisas lá.
Ok, Pigossi pode não ser um exímio investigador. Nem é esse o seu papel, quer dizer, ao menos na vida real. Ator por paixão, daqueles que, quando falam do ofício, não escondem o entusiasmo, o jovem empresta o seu corpo para dar vida na TV ao policial Dante de “A regra do jogo”. Criticado por demorar a descobrir a face oculta de Romero Rômulo (Alexandre Nero), seu pai na ficção, e chamado de ingênuo por muitos, o ator compra a briga do personagem.
— Gente! Ele não vê a novela, não lê os capítulos (risos). Está dentro da trama. O pai de Dante era um herói nacional. Você desconfia de seu pai? Eu não, jamais! Em nenhum momento, ele poderia suspeitar disso. Sei que as pessoas têm ansiedade de ver a história andando, mas novela tem o seu tempo. Até agora, por exemplo, ele ainda não teve nenhuma pista que o levasse ao avô. Nada! Eu seria mais lento que Dante — pondera Pigossi.
Na história, o investigador será alertado ainda esta semana por Lara (Carolina Dieckmann), que avisa ao amado as ameaças que sofreu de Gibson (José de Abreu). Nas ruas, a abordagem é a mesma. Todos querem revelar a identidade do grande vilão do folhetim de João Emanuel Carneiro.
— O que eu mais escutava era: “Dante, abre o olho com o seu pai”. Agora é: “O avô é o Pai da facção”. Eles tentam me alertar o tempo todo sobre quem é o chefe — conta o ator, que curte bastante a ajuda do público: — Acho ótimo essa interação. Novela é diferente de teatro e de cinema nesse sentido, já que temos esse retorno quase instantâneo. Vamos escutando o que falam, podemos refletir, ver o que funciona ou não. Gosto de ouvir a opinião de quem assiste. Acho importante à beça para o trabalho.
Ainda do público, ele tem escutado mais do que apenas preocupações com os caminhos da investigação de Dante.
— A mulherada tem esse fetiche com a farda mesmo (risos). Eu até fiquei me questionando de onde vem isso, mas não descobri. Tem muita mulher que chega para mim e diz: “Me prende, pelo amor de Deus” ou “Eu sou da facção”. Eu me divirto muito — garante o ator, que tem exibido os músculos mais torneados na pele do policial: — Busquei a disciplina da polícia e apliquei na malhação. Esse treinamento funcional que estou fazendo agora é para Dante. Depois que a novela acabar, vou praticar exercício para a saúde, mas não desse jeito. Normalmente, sou mais relaxado.
O corpo definido e o uniforme são a combinação dos sonhos de muitas espectadoras — e, por que não?, espectadores. Meio encabulado, Pigossi acredita, no entanto, que não usaria o figurino do personagem para satisfazer fetiches alheios.
— Hum (pensativo). Não sei. Acho que não — responde ele, explodindo numa gargalhada.
A relações-públicas Vivian Hipólito, de 28 anos, sabe muito bem o efeito que o melhor amigo provoca com seu charme e beleza.
— A gente se conheceu na praia. Tínhamos casa no mesmo local lá no Guarujá (SP). E ele era o menino mais bonito da região. As garotas passavam uma, duas, dez vezes na frente da casa dele para ver se davam sorte de vê-lo. Era bem engraçado — recorda Vivian, que não poupa elogios ao ator: — Além de bonito, é simpático e um ótimo amigo, superdedicado. Nós nos conhecemos com 14 anos e não nos desgrudamos mais.
Como se não bastasse a embalagem, o conteúdo favorece. Pigossi é mesmo simpático. Daqueles falantes, que gesticulam... E não vê com deslumbre o posto de galã que ocupa.
— O rótulo vem com um personagem. Lá no rosa chiclete (bordão de Cássio, seu personagem em “Caras & bocas”, de 2009), eu não era o galã. O título vem junto com uma novela. E ele não é algo definitivo. Ele vem e vai — pondera o artista, que quer escolher com bastante cuidado o personagem que interpretará na TV após “A regra do jogo”: — Foram três mocinhos nas últimas novelas. Acho que está na hora de buscar um outro tipo. Não sei se um vilão, mas precisa ser algo que me encante. Tenho um diálogo aberto com a emissora, converso com eles sobre minhas vontades e meus medos.
De certo mesmo, Pigossi tem três convites para o cinema. Estreante na telona, ele quer fazer todos, mas não sabe se conseguirá conciliar as filmagens.
— Queria fazer os três, mas vou tentar concretizar pelo menos dois. Não posso falar ainda porque não assinei contrato, mas será algo diferente de tudo o que já fiz, um exercício de desconstrução física e estético. O cinema vai ocupar meu primeiro semestre todo — adianta o paulista, que tem mais planos: — Depois eu vou para a França. Vou estudar francês e história da arte. É uma forma que encontrei para dar uma espairecida. Fiz nove novelas seguidas e uma peça a cada intervalo. Venho numa batida pesada e preciso descansar.
Joana Jabace, diretora de “A regra do jogo”, elogia o empenho com que o artista encara o trabalho:
— Trata-se de um ator raro: inteligente, sensível, profundo e entregue. Para mim, é um prazer poder dirigi-lo, porque está sempre aberto à troca. Além de ser um ser humano especial, daquelas pessoas difíceis de se encontrar na loucura de hoje. Amo!
Nas pistas que levam ao seu coração, Pigossi é direto na acareação:
— Estou solteiro. Não estou buscando ninguém. Estou ótimo assim. Fui pular carnaval na Bahia pela primeira vez e me diverti horrores. Descobri o que é o carnaval de Salvador. Vim para o Rio e fui para a Sapucaí. Estou aproveitando a vida.
Apesar de estar tranquilo no campo afetivo, o ator afirma que já cometeu loucuras de amor no passado, algo digno de história de novela. Viajou para Nova York para passar dez horas e voltar, só para encontrar uma pessoa no aniversário. Tinha 18 anos.
— Essa é uma fase em que a gente tem mais tempo (risos). Isso é louco, né?! Hoje, não tenho como fazer algo parecido — analisa Pigossi, que brinca sobre o sofrimento de amor da ficção: — Na vida, as coisas são mais interiorizadas. Quando sofro, fico mais quieto, na minha. Tenho uma amiga que mora em Berlim, que, quando ela está com saudade do Brasil, coloca o CD da Maria Bethânia para tocar e escorrega pelas paredes, sofrendo e chorando (gargalhadas). Isso é uma encenação de novela. Eu não faço isso quando sofro por amor.
Pigossi é leve. Responde às perguntas quase sem pensar. Diverte-se ao saber do sucesso que a irmã, Marinis, de 28 anos, fez ao posar com ele no carnaval deste ano no Sambódromo do Rio.
— Jura? Quer dizer que ela está bombando? Que barato! Tenho que contar isso a minha mãe. Ela vai ficar nas nuvens, é o DNA vencedor (risos). Minha irmã é tímida. Vou falar para ela dar uma descansada na imagem — brinca.
Superfamília, o ator está sempre na companhia dos seus. Para ser feliz, buscar o despreendimento e preza sua liberdade. Numa viagem de 40 dias com o pai (o cirurgião plástico Oswaldo Pigossi, de 60 anos), constatou o quanto é bom ser desapegado de coisas materiais. A dupla passou por países como Argentina, Uruguai, Chile e Peru.
— Fomos até Ushuaia. Você não tem ideia de quantas pessoas estão soltas por aí. A gente viu viajantes de tudo que é lugar, vivendo experiências, conhecendo culturas... O mundo é bem menor do que a gente imagina. Felicidade está nesse lugar de explorar, de ser livre para ir embora... Gosto de não ter hora para voltar, de ir para onde quero.
Enquanto Dante não conquista o seu final feliz na trama das nove, seu intérprete também não pensa nos dias que estão por vir. Prefere pensar no momento que está vivendo e diz que aprendeu isso no trabalho:
— Sempre fazia uma novela e ficava pensando: “E depois?”. Quando nos preocupamos com o que está por vir, deixamos de viver o presente — teoriza Pigossi, que afirma ser mais ligado à credibilidade do que ao retorno financeiro: — Escutar as pessoas falando que sou bom ator é muito mais gratificante do que dinheiro ou status. Quando achamos que conquistamos algo, ficamos com medo de arriscar em cena. O exercício do ator é errar e acertar. Quero sempre acreditar que não cheguei a lugar algum.
fonte: http://extra.globo.com