Flávia Alessandra, vilã em ‘Êta mundo bom!’, comemora ser reconhecida como ‘a mulher de Otaviano Costa’: ‘É uma delícia!’
De repente, um descompasso cronológico. Flávia Alessandra pisa sobre o chão quente de uma São Paulo viva somente na ficção: um bonde está ali, apto a cruzar a rua onde funciona o Cine Caldin. São os anos 40. A atriz — de visual contemporâneo, com salto alto, blusa listrada e calça branca rasgada — passeia pela cidade cenográfica de “Êta mundo bom!”. Para conduzir-se ao passado, gosta de ouvir Billie Holiday e Marilyn Monroe, inspira-se em Grace Kelly. São caminhos para descobrir Sandra, o pedaço de pecado platinado interpretado por ela no folhetim das seis que estreia amanhã. Flávia se deixa levar pela brincadeira. Transforma-se. Na interseção entre pretérito e presente, acarinha o futuro sem melindres. Sente que o tempo, não importa a época, está a seu favor.
— Envelhecer é tudo que eu mais quero. A outra opção é morrer cedo — afirma a atriz de 41 anos, ainda alheia às plásticas: — A idade não me preocupa. As pessoas vão ver as minhas rugas e pelancas. Se Deus quiser, vou fazer avó, bisavó... Faz parte da nossa trajetória. Por que vou brigar contra ela? Que venha a velhice!
A atriz, nascida em Arraial do Cabo, Região dos Lagos do Rio, teve sua primeira chance na TV em 1989. Na ocasião, segundo recorda, temia a chegada dos anos 2000 e um possível fim do mundo. Eram tempos inocentemente incertos. Aos 15, com nítido rosto de adolescente, ganhou um concurso do “Domingão do Faustão” e abocanhou um papel em “Top model”, sua estreia, após concorrer com Adriana Esteves e Gabriela Duarte. Um dos pontos de virada na carreira viria décadas depois pelas mãos de Walcyr Carrasco e Jorge Fernando, autor e diretor de “Alma gêmea” (2005). A nova trama enlaça o reencontro com a dupla, e Flávia tem a chance de ser má novamente. Engana-se, porém, quem pensa que ela deseja sepultar Cristina, a vilã abominável de outrora.
— Tenho ouvido muito: “Lá vem Sandra, a reencarnação de Cristina, agora mais madura”. Tomara, estou torcendo para isso! É claro que eu quero ser odiada, apedrejada (risos). Não acho que devemos matar o que foi bom. Temos que reformular — frisa.
A parceria com Walcyr poderia ter se repetido em “Amor à vida”. Os boatos em 2013, quando a novela estreou, davam conta de que ele teria ficado irritado ao convidá-la e saber que Flávia já estava escalada para “Salve Jorge” (2012), sua antecessora.
— Lamentamos muito, mas não teve mal-estar. Tomara que ele tenha ficado muito chateado mesmo — brinca a atriz, que afirma estar feliz ao defender o texto dele pela quarta vez.
O autor segue ritual semelhante, distribuindo adjetivos e se revelando espantado com a suposta desavença:
— Nunca ouvi bobagem maior. Sou amigo de Flávia e Otaviano Costa, nos frequentamos. Não a chamei para “Amor à vida”. Pensei nela nos primeiros momentos, mas troquei o papel de vilã pelo de vilão gay, o Félix (Mateus Solano). E aí não havia mais personagem à altura de Flávia.
A atriz aparece em “Êta mundo bom” com o cabelo louro platinado, uma ideia reciclada a partir do convite de uma marca de tintura, certamente rentável, para ela clarear ainda mais as madeixas. Propaganda feita, a imagem foi aproveitada no folhetim, compondo o visual de mulher amoral à frente do seu tempo. Sandra não possui os açoites da passionalidade, marca de Cristina, mas é guiada por uma ambição desmedida. É também sedutora, segura de si, bem-humorada; características que, remodeladas, vestem bem sua intérprete.
Tem dias em que me sinto superbem, em outros acho que sou a tiririca do brejo.Flávia Alessandra
— Tenho um conceito diferente de sedução. Vejo sensualidade num pé descalço, numa forma de se portar. Tem dias em que me sinto superbem, em outros acho que sou a tiririca do brejo, mas faz parte da mulher. São muitos hormônios — endossa Flávia, capa da “Playboy” por duas vezes, que conta ter negado recentemente um terceiro convite: — Estou satisfeita. Fiz tardiamente (a primeira, em 2006; a segunda, em 2009), porque antes queria ter o reconhecimento da minha carreira. Era algo do meu ego, meu companheiro respeitou e participou do processo. Eu vivia dizendo: “Ah, é tão bom ser modelo, porque elas fazem fotos nuas, é tudo lindo”. E com a gente tem esse preconceito. Fiquei muito feliz de ter feito as duas.
Nas encruzilhadas entre vida profissional e pessoal, Flávia foi testada algumas vezes, hasteando em todas elas, ao menos publicamente, a bandeira de mulher pacata. Desde a morte de Marcos Paulo, há três anos, representa a filha mais velha (Giulia, de 15, fruto de seu relacionamento com o diretor) numa disputa judicial referente à herança. O processo, ao que parece, fez brotar (ou apenas tornar mais evidente) uma rivalidade com Antônia Fontenelle, viúva do diretor.
— Energia truncada, ruim, deixo passar. Estou somente representando Giulia, que é herdeira. Ele deixou um testamento em que beneficia as filhas. Estou assumindo o papel de responsável pela minha — diz.
É difícil fazer Flávia enxergar a vida por um prisma que não aquele cor-de-rosa e aparentemente irreal. O mau humor só vem com a fome, garante ela. Mãe por duas vezes, a atriz descarta parir novamente: o motivo é a fome, mas por viagens, viver o ainda não vivido, quem sabe morar fora do país por uma temporada. São planos desenhados com as filhas Giulia e Olívia, de 5 anos, e com o apresentador Otaviano Costa, de 42. Este ano, o casal completa uma década como marido e mulher. Uma relação, ela sublinha, recém-saída de um comercial de margarina, com direito a carinhas matinais felizes. Flávia salienta não ser essa apenas uma ilusória publicidade.
— Nossa vida realmente tem sido assim. Brincamos com isso. Todos nós temos um humor muito bem resolvido lá em casa. Claro que temos nossas desavenças, mas quando um sai do eixo os outros pegam no pé — destaca a atriz, com fama de centralizadora, que prometeu para si mesma não tentar resolver sozinha os problemas: — Não vou ficar sendo mais mãe de todos. Tenho essa mania.
Definitivamente, não somos um casal margarina. Temos gênios fortes.Otaviano Costa
Otaviano, por sua vez, altera as cores desse universo ideal, mas sem se desprender dos fios do carinho.
— Definitivamente, não somos um casal margarina. Temos gênios fortes. Mas isso é muito respeitado entre nós e 99% das situações são de absoluta sintonia, especialmente na solução dos problemas — sustenta ele, elegendo o nascimento da caçula como o mais especial momento desses primeiros dez anos juntos.
Desde o “sim” certeiro, a vida a dois seguiu um curso próprio. Hoje, a atriz se depara com um fenômeno curioso e, aos poucos, é cada vez mais a mulher de Otaviano Costa. Não que a alcunha seja novidade. No entanto, se antes o atual apresentador do “Vídeo show” parecia estar ofuscado pela presença da mulher, hoje ambos experimentam um lugar ao sol em fartas medidas — embora, é verdade, só ela tenha encarado a cidade cenográfica do novo folhetim em pleno meio-dia para fazer as fotos de capa da Canal Extra.
— Outro dia, fui tirar passaporte da Olívia e a moça que nos atendeu falou: “Então, essa é a famosa Olívia que seu pai tanto fala, hein?”. Hoje todas nós viramos “do Otaviano”. Ouço muito mais: “Você não é a mulher do Otaviano Costa?” (risos). É uma delícia. Ele está vivendo um momento muito abençoado de reconhecimento — derrete-se.
Ouço muito mais: “Você não é a mulher do Otaviano Costa?” (risos). É uma delícia. Ele está vivendo um momento muito abençoadoFlávia Alessandra
Tempo, uma palavra-chave para ela. Abre portas, janelas e lembranças: Flávia logo constata que, talvez não demore muito, ela também fique mais conhecida por ser mãe de Giulia — a adolescente está na atual temporada de “Malhação”, enquanto a caçula, ela especula, talvez se torne cantora. Diante da cria, pedaços seus, impossível não lembrar da garota que foi. Nos primeiros anos como atriz da Globo, era a mãe, Raquel Costa, seu porto seguro e apoio irrestrito — para ficar perto de Flávia, a matriarca, hoje professora aposentada de 67 anos, fez figuração em algumas novelas. Décadas desdobradas, num desenho lógico futuro adentro, a atriz se vê na filha. A filha se espelha na mãe.
— Ela consegue me controlar e ser minha amiga ao mesmo tempo. Entendo que toda mãe precisa impor alguns limites e ela não abre mão disso, mas isso não impede que eu conte meus segredos, divida minhas dúvidas, e que tenhamos momentos de pura amizade e companheirismo — conclui Giulia.
Por vezes, as duas se pegam tecendo planos sobre o que fazer caso ganhem na loteria. Quem nunca? Mas até nas conquistas somente imaginadas, nos pensamentos sobre dias que talvez demorarem a chegar, Flávia não se vê distante da profissão que escolheu para si. É um desejo, uma torcida, um afago, também compartilhado com a primogênita:
— Preciso disso não só para me sustentar, mas para alimentar a minha alma. Tem um lado ruim, do quanto a gente se expõe, dá a cara a tapa, do quanto a gente tenta e erra. Falo sobre isso com a Giulia. Mas é o que eu realmente amo, a possibilidade de viver tantos personagens e sensações diferentes, tantas vidas — valoriza Flávia, empolgada com o universo particular de “Êta mundo bom!”.
fonte: http://extra.globo.com