Falta de coerência na novela das 21h
ALEXANDRE NERO E VANESSA GÁCOMO (FOTO: TV GLOBO)
A ficção muitas vezes apela para incongruências que atentam contra a lógica formal das coisas. Nisso, aliás, imita a vida, que é cheia de sustos. Porém, nenhuma boa história inventada pode ultrapassar limites que impeçam o espectador de embarcar nela. Isso vem acontecendo com "A regra do jogo". No início da novela, Romero (Alexandre Nero) era um sujeito com propósitos claros, apesar da vida dupla. Trabalhava para a facção. Tinha uma atividade social, de defensor dos oprimidos, mas era tudo fachada. Tratava-se de um bandido sem hesitações morais. Usava toda a informação que obtinha do filho policial, Dante (Marco Pigossi), para fortalecer as atividades de sua gangue.
Romero dançava na frente do espelho, ok, mas quem nunca? Era um personagem finamente construído e coerente, totalmente racional. De um tempo para cá, tudo mudou. Ele estava em Florianópolis com Atena (Giovanna Antonelli), para onde finalmente conseguiu fugir depois de estar nas mãos dos criminosos. Quando, subitamente, tomado de amores por Tóia (Vanessa Giácomo), pegou um avião para comparecer ao casamento dela. Alguns capítulos adiante, trancafiou a moça num quarto e vem se comportando feito um louco varrido. É um caso de um personagem que começou bem e acabou corrompido, talvez para agradar o público. Uma pena.
Zé Maria (Tony Ramos) é outro exemplo. Ele é odiado por Gibson (José de Abreu), que quer matá-lo. Mas é um gato e rato que anda difícil de engolir. O magnata manda um segurança alto e forte se fingir de aliado de Zé Maria. Mas, em vez de esse rapaz simplesmente assassinar Zé Maria com um simples tiro quando estão a sós, Gibson prefere armar uma cilada para ele num hotel. E, claro, Zé Maria escapa. São desvios de rota longos e inúteis, que lembram aventuras para crianças, como as de Batman e Robin. Só que o público da novela das 21h não é infantil. Zé Maria não só fazia parte da facção como era mau feito um picapau. Do nada, teve uma “iluminação” e resolveu destruir a organização. E a coisa não para por aí. Ele abriu o coração para Adisabeba (Susana Vieira), que simplesmente o perdoou. E se explicou: "Quero que meu filho um dia possa ter orgulho de mim". Mas que filho vai ter orgulho dele, um assassino frio, sem dó nem piedade? E qual é a mulher que acredita nessa cascata? E qual o público?
fonte:http://kogut.oglobo.globo.com